sábado, dezembro 23, 2006

“Seja bem vindo”


Preciso falar-te a verdade: “bem vindo ao mundo cruel”. Não se iluda com o mundo dito de humanos, pois verás um mundo desumano. O dinheiro por aqui dominou, o amor está sendo abolido e apagado. O Natal? Esse já não é mais um momento de pararmos e refletirmos e sim de presentes e do velhinho imaginário, o Papai Noel. Cada ser quer o seu pão, quinhão e pecúnia.

Bem vindo ao mundo violento, que determina especialização, e criminaliza os movimentos, que todos são cidadãos isso é ilusão. Esse mundo é repleto de guerras contínuas, civis, temporárias, tem de tudo e só olhar ao redor, todos os “desentendimentos” são por motivos diferentes e fúteis ao mesmo tempo, pois nenhum motivo justifica tantas mortes inocentes, essas atitudes irracionais só acabam com a nação.

Alguns vivem alienados, outros revoltados, há aqueles famintos e magnatas distintos. Vivem todos no mesmo espaço global, porém são tão diferentes que é de se espantar, a moda é comprar, mas a massa popular nunca consegue está na moda. A moda do miserável é ralar no serviço, é se contentar com a miséria.

Você está chegando e isso trará muitas felicidades, precisará de proteção, porque há cavalos humanos que não dão perdão. Os sentimentos mudaram, o stress tomou conta da maioria da população, trabalha-se mais que o irmão, só há tempo para o computador, trabalho e televisão.

Seja bem vindo a esse planeta que um dia deixará de ser chamado de terra, do jeito que anda a nomenclatura poderá mudar para: “enchente”, “efeito estufa”, “camada de ozônio degradada”, “bola do capital”, “ planeta da fome”, “ circulo da concentração de renda”.

A esperança se perdeu, fingimos acreditar nela e tê-la também, para só assim ela não falecer completamente naqueles que querem mudança. Já não se degusta mais com sabor natural o que se come, no paladar só sentem-se os agrotóxicos e gostos artificiais, as belezas naturais estão se acabando e dando espaço a poluição e aos prédios . Mas, além disso, seja bem vindo, porque o mundo precisa de você.

quarta-feira, novembro 22, 2006

Ei, é uma ida sem esquecer do que ali ficou!




Ei espera! Ei, não briga com ele! Ei, não joga sujeira no chão!
É hora da fila, um atrás do outro, todos olhando para parte de trás da cabeça do outro. Cada fila um grupo, do menor para o maior, essa é a lógica que aprendemos desde tempos atrás. Um grito soa no ar, pedindo silencio. Olhinhos atentos. Atrás de cada olhar uma vida, história que na maioria é sofrida.

Ei, o que é isso? Por que você xingou seu colega? Não se joga comida no lixo! Vamos para sala do João conversar!
Cabeça baixa. Olhar raso de água, cada passo ecoa lentidão, pois a disciplina é argumentada então. Sentado na cadeira passa um tempão, alguns adormecem, outros cochilam, mais ele não. Passa o tempo pensando no depois, na bola e no gol, na musica e no som, no café e no pão.

Ei, é hora de lavar as mãos! Ei é hora da fruta! Ei não é para empurrar a colega!
Brincam de pega-pega ou de esconde-esconde ? Tem amarelinha, mais sem pisar na linha. Pião e bolinha animam aos que ali caminham. A pipa ? Fica para o final de tarde, hora de subir na laje e voar lá no alto.

Ei, vamos para sala! Ei, está na hora de aprender! Ei, todos para suas oficinas!
Cada sala um movimento, toda sala é lecionado um novo momento, é apresentado um novo mundo. Cada cabecinha tem uma preferência, gostos diferentes e reações surpreendentes, uns mentem e outros aprendem.

Ei, está na hora do café! Cada qual em sua mesa! Ei, hoje os que limpam pertencem ao grupo um!
Novamente forma-se a fila, está no momento da comida, que algumas vezes só é vista enquanto estão ali, comem com tanto gosto que num estalar de dedos parece que a comida irá acabar. Repetir a refeição é de lei, agora é só escovar os dentes e subir o morro, de volta ao seu mundo, para sua casa e sonhar com tudo.
Ei, tchau! Ei, até amanhã! Ei, juízo e não vão fazer besteiras! Ei, atravessem na faixa ...


Didecado as criaças que fizeram e fazem parte da minha vida. Promenor!!

domingo, novembro 05, 2006

É pão? É roubo? Como é que é?


- Pão de trigo ou doce?
-Dá qualquer um ai!
- Fechou dois real.
- Pô, só tenho um real moço!
- Então vaza daqui neguinho, não vai ter nenhum.
- Um real dá só quatro pão, não dá nem pra metade da minha familia!
- Então que passem fome, cambada de miseráveis! E tem mais,não vem mendigar
aqui na minha padaria não. Vai trabalhar vagabundo!

É por unidade ou é por quilo?
É porque não é ou porque não pode?
Tanto faz? Ou não faz?
Cada moleque um caminho
Cada estrada um espinho
Um olhar de preconceito advém do vizinho


- Vamos, caminha mais rápido filha.
- Por que mãe?
- Tem um menino todo sujo ali atrás!
- E daí?
- Daí que é um marginalzinho, é obvio que quer nos roubar.
-Mais ele está parado mãe, e nem olhou para gente!
- Não olhou para disfarçar filha, eu conheço bem essa gente.


O que se esconde atrás do medo?
Manda para fora e joga bola
Ódio fala, moleque chora
Conhece bem o desvalor
Sabem bem o que é rancor
A discriminação disseminou, alastrou, contagiou.


- Eu já vou, esse não é meu mundo!
- Fica ai cara, a festa está massa, só gente da grana!
- Que nada cara, todo mundo me olha, parece até que sou E.T!
-Para de nóia, tão de achando bonito!
- Tão nada, tão é com medo de mim, eu vou, não quero me sentir pior!
- Você que sabe!


Ele sabe e se importa
Vai em frente e fecha porta
No mundo que divide a entrada
Do que não mais suporta.

quarta-feira, novembro 01, 2006

Centro e Periferia


O que se esconde atrás dos edifícios?
Em que garagem estacionam os corpos?
O que tem naquelas vielas?
O que o mudo quer falar?

Eis aqui almoço e jantar
O lado B e o lado A
A contradição ali está
Tentando entender e como mudar

Sabe-se lá a que visar
Educação e analfabetismo andam lá
Viram e reviram
O âmago periférico
Vigiam e protegem
A legalidade do agreste

Quanto se ganha?
Quanto se gasta?
Onde se gasta?
Como se gasta?

Já basta, tudo basta
Nada se arrasta
Vida escassa
Na onda da catraca

Quem se esconde está visível
Os corpos estacionados se movimentam
Nas vielas nada tem
Diz o mudo que os detém.


domingo, outubro 15, 2006

“Sei que nada sei”


O grande filósofo que habitava em Atenas, já dizia que nada sabia. Sócrates andava pelas ruas questionando as pessoas, ensinando-as e as fazendo pensar. Na Grécia antiga especificamente na polis Atenas estavam naquela época instaurando a democracia, este espaço foi cenário de inovação, existia na cidade por volta de 300.000 mil pessoas,mas apenas 40.000 eram cidadãos, ou seja, tinha a democracia nas mãos e poderiam decidir, mas a participação efetiva na assembléia raramente superava 5.000 cidadãos.

O ilustre filósofo foi acusado de desrespeitar os Deuses e corromper os jovens. Em seu julgamento preferiu a morte ( não suplicando por perdão) do que renunciar a filosofia. Não escreveu nada, enquanto a produção literária no seu tempo era abundante, seus discípulos fizeram esse papel, principalmente Platão que faz um retrato fiel das falas de Sócrates, em seu julgamento. Por falar em julgamento, é sabido que o filósofo grego foi obrigado a suicidar-se, tomando um veneno, condenado a pena de morte.

Sua morte se deu por aqueles que se sentiam ameaçados, por motivo muito simples, os “dominadores” da época não desejavam “cabeças” pensantes, pois não iriam conseguir manipular tão facilmente, alem do mais, escravos e estrangeiros (chamados de metecos) não eram considerados cidadãos da Polis. Havia inúmeros sofistas que se sentiam prejudicados, pois cobravam para lecionar e Sócrates nunca recebeu dinheiro em troca de ensinamentos.
Traçando um paralelo até os tempos atuais não mudou muita coisa, uma cidade democrática (Atenas) que nega a sua democracia ao reprimir alguém que fala o que pensa, porém a questão ainda não é essa, e sim já se passaram tanto tempo desde a tentativa de instauração da democracia, e vejamos hoje, como ter democracia ou ser democrático num país (Brasil) que passa fome, que pede esmola, e que chora?

Os detentores do poder continuam no mesmo lugar, reprimindo as mesmas pessoas, os ditos dominadores que não “querem largar o osso”, esses mesmos que não desejam e restringem “cabeças” que pensam, pois a partir de um pensamento politizado pode-se mudar algo em uma sociedade, não podendo manipular tão fácil os desfavorecidos, ignorantes e analfabetos, assim esses mesmos lutarão e cobraram seus direitos como cidadãos pertencentes a um Estado democrático.

Um exemplo em que se pode ter uma percepção clara de tudo que se foi falado ( cabeças pensantes) é na própria educação. Algumas (muitas) instituições de ensino da rede pública, só tem a matéria Sociologia e Filosofia (quando tem) no último ano do ensino médio. Porque? Simplório: faz pensar nas mazelas e alienações que os abarcam. Ainda esses pobres cidadãos deveriam ter nas escolas publicas uma matéria sobre seus direitos, o mínimo de direito que ainda lhes resta. Mas isso não passa de utopia, quem pode fazer isso não tem interesse, os que podem mudar não querem, não se esforçam, pois senão perderão seus postos. De manipulados do futuro, e ainda dirão que sabem do que precisamos. Mas quem sabe do que precisamos? Até Sócrates disse que não sabia, e olha que ele foi nomeado pelo oráculo de Delfos o homem mais sábio de Atenas. Então meus caros dominadores, vocês tem muito que aprender ainda.

quarta-feira, setembro 27, 2006

As grades e Ela


Está na hora do banho de sol, onde ela ficará livre por alguns instantes, daquelas grades de ferro que a corrompe. Trancada há anos já nem sabe em que estação se encontra e o que se passa lá fora. Por trás do cárcere privado já não vê amigos, parentes e nem marido, pois visita íntima foi cancelada.
Acabam-se os instantes de luz, e ela volta para as trevas, à escuridão da caverna da solidão. Lá ela pensa em milhões de coisas, e a coisa que ela mais tem lá é tempo, para pensar, chorar e se martirizar. As mesmas faces sofridas que vê todos os dias a torna mais desanimada para pensar no demorado futuro. O lugar é sujo e assombrado, lhe causando deveras vezes pânico, a vida ali não é de se dar gosto.
Passam-se dias e horas, o sol nasce e se põe, e tudo parece estagnado em momentos desonerados, obrigados e alienados. A comida já não entra mais, a dor de está longe dos filhos já não agüenta mais, dormir no chão já não suporta mais, a solidão a constitui cada vez mais.
Enquanto sua liberdade não chega, o aval da libertação não aconchega, ela continua trancafiada por trás das grades enferrujadas, olhando para o cadeado que tranca sua vida, cochila para esquecer que ali se abriga.

terça-feira, setembro 12, 2006

Aquela Mulher


O rosto sofrido daquela mulher
Mulher sofrida que camufla sua dor
A mesma dor que corrói seus filhos
Os filhos daquela que apanha calada


O corpo sofrido expõe hematoma
A alma dilacerada, rasgada em pedaços
As mãos sofridas, lavam, esfregam e
cobrem o rosto para ocultar o choro


Com sofreguidão aguça o coração
Coração escondido na interna da solidão
O coração que agüenta os lamentos
Daquela mulher.


Lamentos que nunca acabam
Que tudo consola na outrora por ali a fora
Suplicando por piedade leva a vida
na sociedade, na vontade, na eternidade.


Ninguém vê e todos vêem
Aquela mulher que chora baixinho
Aquela que vive no ninho
No ninho sombrio


O suspiro acelerado, deturpado, amedrontado
O sofrimento abafado, lamentado, rasgado
Assustam aquela que se aflige
Que sofre, padece, tolera
Que só ela sabe o que espera, e o que já era.

domingo, agosto 27, 2006

Testamento de um (des)favorecido


Atesto para os devidos fins, que estou quase indo dessa para melhor, ou melhor, batendo as botas, resolvi então me antecipar e fazer um testamento, pedi para meu compadre Bento escrever, pois sou analfabeto, como estou caduco mesmo, ficando "véio” , com dor nas pernas, artrite, tendinite, “hipertencite”, “colesterolzite” e assim vai, sem contar a coisa que não sobe mais, isso me deixa como um morto, mas com uma diferença, eu respiro, resolvi deixar meus bens para minha família, para que não haja brigas após minha ida para um dos dois lugares, ainda não sei o que deus decidiu, se meu futuro será no céu ou no quentinho, assim, deixarei num papel o que cada um terá direito, sem nada não irão ficar, só assim irei descansar.

Primeiramente, quero começar pelo meu filho mais velho, quem me deu a primeira felicidade na vida ao nascer, pois foi um bebê robusto, bonito, saudável, tivemos até que colocar uma correntinha com uma figa pendurada para espantar olho grande, hoje está um homem casado, trabalhador. Para ele, o Arquimino deixarei a casinha meia-água que acabei de construir. No mesmo quintal tem um puxadinho com um barraco velhinho, mas que está conservado, e irá ficar em posse da Creusa, minha única filha mulher, como não quero que Creusa fique brava ou chateada, por não ficar com a casa que ela queria, ainda vou lhe deixar a caixa d’água, e espero que fique feliz.

Para o Onório, ao pensar nele observei que dentre os filhos ele têm mais condições, como não quero deixar ninguém de mãos abanando e depois falando por ai “Ah o velho morreu e não deixou nada”, então vou deixar aos seus cuidados a minha cadelinha vira-lata e meu carrinho-de-mão, porque sei que ele irá precisar do carrinho quando fizer obra. Meu filho caçula o João Tião ficará com meu dente de ouro e a minha bicicleta, a qual eu tenho a alguns anos.

Se minha mulher não for “duma dessa” antes de mim, ficará na nossa mesma casa, mas receberá a pensão do INSS, já andei vendo, será um salário mínimo. É isso, não quero que chorem em meu velório e não quero que retirem minha aliança e meu relógio, muito menos cortem a minha unha do dedo “mindinho”,pois demorou anos para ficar do tamanho que está, já fiz este testamento para não brigarem, e se isso acontecer ou se não fizerem o que eu pedi eu volto, ah mais eu volto, escrevam o que eu estou dizendo, e busco tudo de volta, além de puxar os pés de vocês a noite, ouviram?!

terça-feira, agosto 22, 2006

O que o Sistema irá trazer?



E a indagação não quer calar, ou quer?Nossos sistemas funcionam num andar de formiga.Dona Selma tenta viver miseravelmente, desigualmente.Pois vive num sistema capitalista, que gera espantosa desigualdade.Uns têm e outros não. Uns podem ter e outros se sacrificam para tentar ter.

Mas Dona Selma continua nos seus afazeres. Ela vive a vida igual a de milhõesde brasileiros, indicados como miseráveis.Além de fazer faxina, ela leva e trás seus filhos da escola pública, limpa suaprópria casa, faz render seu salário mínimo para seis pessoas.Por conta de seu sistema nervoso, vai cuidando de sua gastrite nervosa, diz que isso é coisa só de agora, da modernidade.

Ao visitar seu marido no cárcere que o encontra, fica num nervo só que se dá conta.Eta coisa desumana, depósito de seres humanos, onde degrada-se aos poucos.Lugar sujo, enferrujado, quebrado, lotado e insensato.É, deve ser culpa do sistema penal, que não cumpre seu discurso oficial.Dignidade não existe ali.

Para tratar de sua saúde Dna. Selma procura o SUS (Sistema Único de Saúde),infelizmente é “único” mesmo, é o que os desfavorecidos têm de público em saúde.Porém não funciona direito, principalmente aquele que tem lá no morroem que Dna. Selma mora, muita gente necessita, assim, toda vez que ela aparece para pegar seus remédios, volta para casa decepcionada, estarrecida da tamanha “alavancada”.

sábado, julho 29, 2006

Oh Deus, ai dor, oh SUS, ai dependência.


Que fezes é a saúde pública do Brasil, estou pagando com a minha dor no estomago, a minha ignorância, imobilidade e ingenuidade, por não poder fazer nada. Preciso ter acesso à saúde e me é negado, a mim e tantos outros que tem a conta bancária igual a minha, ou não tem conta bancária.
Oh posto de saúde, ai fila no hospital, oh falta de médicos. É nisso que dá, votei sem pensar, votamos sem pensar, acreditar, apostar, nos deixamos enganar, depositamos neles nossa confiança, e eles pisam no tapete vermelho como Rei, e nós pisamos na lama vermelha como ninguém, que nem saúde tem.
Oh falta de medicamento, ai dor constante, oh falta de vagas. Dirijo-me ao hospital, gasto dinheiro do ônibus e tempo, bato de porta em porta para ser atendida em algum hospital de saúde publica, e o que vejo? Somente multidões de pessoas, em estados iguais ou pior que o meu, vegetando na fila de emergência. Cansada de esperar vou tomando chá, o que os antigos auxiliam tomar, é boldo de lá para cá, resta-me bolacha água e sal para me alimentar, nessa espera de um dia consultar.
Oh vida, ai dor, oh desalento, ai descaso. Depois de horas e dias de espera, consegui consultar, só resta fazer o exame para o problema solucionar. Dirijo-me a sala de “marcações” de consultas, uma jovem senhora me atende, lhe dei a requisição médica, para ela me dar o aval do exame de endoscopia, mas a decepção me corroeu quando me disse que não havia vagas, porém ela me perguntou se eu gostaria de colocar meu nome na lista de espera, a lista se resumia num livro e meu nome iria para o final dele, ou então a ultima alternativa era fazer particular, fitei-a com um olhar indeciso, e falei da minha indignação pela saúde pública, simplesmente ela me olhou e falou que o Sistema Único de Saúde é assim mesmo, aquelas pessoas que estavam na lista estão esperando há anos e ainda não foram atendidas, então com um ar de abatimento, disse-a que por favor não colocasse meu nome no livro da morte, que não iria esperar por algo que não vem, me levantei e sai.
Olhei para a receita que estava em minhas mãos, o que iria amenizar minha dor, fui cabisbaixa até a sala de medicamentos, um rapaz me atendeu, lhe entreguei a receita, ele olhou-me, pediu desculpas, pois não tinha aquele remédio, estava em falta, a previsão para receberem o remédio era de mais ou menos dois meses, quando eu iria abrir minha boca pra desabafar minha indignação, me faltou forças, tamanho o desapontamento. Como um cachorrinho que é enxotado de um local ou lhe negado comida, vou embora com as orelhinhas para baixo.
Oh Deus, ai dor, oh SUS, ai dependência.
Gabriela Jacinto

sexta-feira, julho 07, 2006

SALÁRIO?


Chegou o grande dia, o dia mais esperado por trabalhadores, proletariados, empregados, aqueles que a maioria trabalha arduamente para receber algo.Esse algo vem em papéis com valores, é o famoso dinheiro, “ bufunfa”, “grana”, “faz – me rir”, money, “din-din”, todos são expressões populares do famoso papelzinho que todos almejam ter para sobreviver.
Mas a maioria do povo brasileiro que trabalha o mês todo, recebe um salário mínimo, o que fazer com R$ 350,00 reais? Comprar á Vista é quase impossível, então faze-se prestações, paga-se o mínimo no cartão de crédito, e começam as dívidas cruéis. A pessoa que recebe ao final de seu trabalho mensal um salário mínimo, faz prestações nas lojas que inventam juros de 1% ao mês, pagam numa mercadoria o dobro , o triplo do valor, em 24 vezes, um abuso com os pobres, sustentam capitalistas de plantão que acionam o marketing para tirar dinheiro daqueles que menos tem, daqueles coitados, que só podem ter um DVD, um aparelho de som, uma geladeira, se pagar por ela uma fortuna em “leves” prestações.
Hoje é o grande dia de dar “Oi” para o salário e se despedir dele, pois temos contas, contas e mais contas, não temos como usa-lo, usufruí-lo em lazer, ir no Mc Dolnalt (isso não te pertence mais) , ir gastar em Shopping (isso nunca te pertenceu) .Hoje as dívidas estão sufocando a vida de muitas famílias, mesmo as famílias de alto nível de instrução. E é por isto que muitas pessoas atoladas em dívidas só conseguem viver enquanto estão dormindo.
O negócio é parar de pagar, é nos reunir-mos no SPC, no SERASA, para só assim conseguirmos dormir em paz, sem se preocupar em pagar as contas para não cair nas garras do SPC, pois você já vai está lá , então paciência, vamos dormir, ou não vamos? Não, não vamos, vamos é ficar preocupados em não poder comprar mais nada, precisamos comprar , fomos educados para consumir, viramos consumistas, estamos numa sociedade declarada capitalista, vivemos na globalização. Conclusão, estamos encurralados pelo capital, armaram uma para nós , são mais espertos, não dormem para isso, para arrumar meios de nos manipular, estamos perdidos, estamos sonhando em um dia mergulhar na piscina do Tio Patinhas, na ilusão de chegar a ser um Silvio Santos, mas acho que não hen, acho que eles não vão deixar.

terça-feira, julho 04, 2006

TORNAR DESIGUAL PARA TORNAR IGUAL

O Brasil começou errado, sendo explorado , escravizando pessoas, segregando, destruindo etnias, atrelando uma dívida externa para tornar-se liberto. Mas terminar errado ou continuar errado não dá. Tantos anos já se passaram desde 1500, tempo aquele tão injusto, tão desumano, os negros por um longo período eram tratados como um bem-semovente, até mesmo para um Código Civil, termo esse (bem semovente) dirigido para animais, eles eram trazidos dá África praticamente a força, sem saber para onde iriam ou que fim teriam, chegando ao Brasil em navios amontoados como bichos, vistos como subumanos, eram trocados por produtos brasileiros, como se fossem objetos de troca, levavam esses seres humanos para o eito, tornavam-se propriedade de alguns, supriam o problema da mão-de-obra , sendo barato ou gratuito. Inúmeros autores falam da questão racial sofrida na época da escravidão, da repressão sofrida pelos negros, forçados e escravizados a um trabalho vil, sem remuneração. No século XVII, haviam 20 mil escravos no Brasil. Após a alforria conquistada pelo escravo, ainda assim tinham que andar pelas ruas como se fossem fugitivos, perseguidos a todo tempo por aqueles que se sentiam no direito de possui-los, alguns fazendeiros promoviam buscas aos fugitivos, quando capturados sofriam torturas no cepo e no tronco, por serem considerados inferiores e não pertencentes a raça humana. Assim, formavam agrupamentos na “selva”, verdadeiras aldeias, os negros se refugiavam em quilombos, formando um lugar só deles. Nosso país na época do descobrimento era tão novo e ao mesmo tempo tão arcaico, segregando pessoas pela raça. Após se libertarem das algemas, algemas essas concedidas a eles pelos brancos, que se achavam “deuses” e únicos, começou-se a falar da tal da “igualdade”, depois da barbárie desigualdade estabelecida ali, pois bem, agora todos são iguais perante a lei, no papel mudou, as normas mudaram, as leis , os artigos , incisos e alíneas, mas o preconceito não, os rastros daquele tempo não, a mente, os pensamentos, os sentimentos das pessoas não, pois então pergunto: “ Que igualdade é essa ali na Carta Magna?”. Já se passaram 500 anos desde o descobrimento e olha-se para o hoje, e vislumbra-se vestígios de 500 anos a trás, se vê desigualdade racial, vinculada quase totalmente a racial, num país do carnaval de origem negra e pobreza negra, uso o termo “pobreza” mesmo, pois nas palestras que assisto parecem-me que alguns palestrantes, têm receio de falar pobreza , então falam outros termos como: classe desfavorecida, de baixa renda, miseráveis, e ai vai, que nada é pobreza sim, e enquanto escondem isso nada vai mudar, como tentam mudar a cidade de Florianópolis, enfeitando-a , mais não conseguem esconder o morro (se poderem esconder o fariam ) dos turistas, mas a pobreza está berrante em nossa cidade, sociedade e país, estão pedindo misericórdia, num país que as vezes não dá para sobreviver. Vivemos em um Brasil com preconceitos, com seqüelas do passado, tentam camuflar esse tal de preconceito, com a ajuda da famosa mídia e elite, dominadoras e formadoras de mentes e opiniões, essa mesma mídia que induz o consumo que infelizmente é para poucos, que trata a sociedade como leiga de informações, pois transmitem programa como Big Brother, enquanto podia ser transmitindo programas educativos e de qualidade de informação, reeducando a sociedade alienada a televisão improdutiva de informação coerente. Imaginem então quando se fala em leis de COTAS, isso para alguns (muitos) é uma gafe, um equívoco, vai contra e fere a constituição, sei lá, tiram argumentos do além para contrariar a política de implemento de cotas nas universidades federais, que é repleto de filhos de famílias de posses, que sempre estudou em colégios privados, fizeram cursos preparatórios para vestibulares, estando bem preparados para disputar uma vaga com aqueles que estudaram boa parte de suas vidas em escolas do governo, com má infra estrutura, com professores que recebem um salário de fome, em greve por longos períodos, nisso ninguém parece pensar, e os privilegiados ingressam nas universidades sustentadas com o nosso dinheiro, aumentando e assegurando o patrimônio, pois ingressam nos melhores cursos e os filhos de faxineira vão ser faxineiros, nem chegam a ingressar em nenhum curso. Se a miséria está como está é porque não se deu oportunidades desde o começo para todos, só se deu para alguns, se visualiza pouquíssimos universitários pobres e negros nas universidades, já viram oligarquias negras? Em shopping centers gastando fortunas em tênis e roupas da moda? Em cargos nobres? . Salientando a questão das cotas, é um ato que tem que existir, precisa de atenção, podem até falar que mexe com a nossa constituição que essa por sua vez prega isonomia, porem tem que haver uma reflexão, na realidade isso não acontece, então temos que tratar com a realidade, e não com a teoria ou utopia. Pois então vamos tratar desigual, para lá na frente tornar igual, para termos um país mais justo e com maior isonomia, não as deixando só num mero papel, para não haver só filhos da classe média ou da alta doutores, mas todos um dia terem a mesma oportunidade para chegar lá. O povo precisa acordar, os intelectuais, os interpretes das leis, todos olharem para realidade berrante, ali, aqui, lá na frente, pois grande parte desses não querem enxergar a realidade, e quando enxergarem pode ser tarde de mais. Irá depender também da ação, da mudança de consciência dos prejudicados que vivem neste país chamado Brasil, que encontra-se em segundo lugar na pior distribuição de renda do mundo, vai depender de nós a mudança desse paradigma, não se deixando manipular mais uma vez, buscando através de políticas publicas, afirmativas, movimentos, força de vontade, esperança, é que se pode alcançar algo desejado, não é simples e nem da noite para o dia, é árduo e cansativo, mais se cada um fizer sua parte viveremos em um mundo melhor, assim estaremos cientes de nossos direitos, direitos esses que se encontram nas mãos da oligarquia elitista, e o que nos sobra é a pena, o direito penal, que no ultimo senso promovido pelo ministério publico em 1994, foi constatado que 95% dos presos eram pobres, 83% não tinham completado o ensino fundamental, para completar no mesmo ano a revista Veja expôs uma matéria em que continham alguns dados, sendo que de 10 criminosos, 3 eram acusados por furtos, furtos esses que na maioria eram de tijolos ou caixa de leite ,ou seja, quem está encarcerado, como fala Mv Bill (em uma de suas composições), “cadeia é pra puta, pobre e preto”, essas são as marcas de um passado que não foi cicatrizado. Há uma grande dívida com o povo, com os índios, pois chegamos e aos poucos estamos destruindo o que eles preservaram , além de aos poucos os destruírem também, aos negros, por toda a maldade concebia a eles, e para os pobres esquecidos nos quatro cantos do país, desde Paraná á Amazônia, de ponta a ponta do país. De um Brasil tão rico e ao mesmo tempo tão pobre.