quarta-feira, novembro 22, 2006

Ei, é uma ida sem esquecer do que ali ficou!




Ei espera! Ei, não briga com ele! Ei, não joga sujeira no chão!
É hora da fila, um atrás do outro, todos olhando para parte de trás da cabeça do outro. Cada fila um grupo, do menor para o maior, essa é a lógica que aprendemos desde tempos atrás. Um grito soa no ar, pedindo silencio. Olhinhos atentos. Atrás de cada olhar uma vida, história que na maioria é sofrida.

Ei, o que é isso? Por que você xingou seu colega? Não se joga comida no lixo! Vamos para sala do João conversar!
Cabeça baixa. Olhar raso de água, cada passo ecoa lentidão, pois a disciplina é argumentada então. Sentado na cadeira passa um tempão, alguns adormecem, outros cochilam, mais ele não. Passa o tempo pensando no depois, na bola e no gol, na musica e no som, no café e no pão.

Ei, é hora de lavar as mãos! Ei é hora da fruta! Ei não é para empurrar a colega!
Brincam de pega-pega ou de esconde-esconde ? Tem amarelinha, mais sem pisar na linha. Pião e bolinha animam aos que ali caminham. A pipa ? Fica para o final de tarde, hora de subir na laje e voar lá no alto.

Ei, vamos para sala! Ei, está na hora de aprender! Ei, todos para suas oficinas!
Cada sala um movimento, toda sala é lecionado um novo momento, é apresentado um novo mundo. Cada cabecinha tem uma preferência, gostos diferentes e reações surpreendentes, uns mentem e outros aprendem.

Ei, está na hora do café! Cada qual em sua mesa! Ei, hoje os que limpam pertencem ao grupo um!
Novamente forma-se a fila, está no momento da comida, que algumas vezes só é vista enquanto estão ali, comem com tanto gosto que num estalar de dedos parece que a comida irá acabar. Repetir a refeição é de lei, agora é só escovar os dentes e subir o morro, de volta ao seu mundo, para sua casa e sonhar com tudo.
Ei, tchau! Ei, até amanhã! Ei, juízo e não vão fazer besteiras! Ei, atravessem na faixa ...


Didecado as criaças que fizeram e fazem parte da minha vida. Promenor!!

domingo, novembro 05, 2006

É pão? É roubo? Como é que é?


- Pão de trigo ou doce?
-Dá qualquer um ai!
- Fechou dois real.
- Pô, só tenho um real moço!
- Então vaza daqui neguinho, não vai ter nenhum.
- Um real dá só quatro pão, não dá nem pra metade da minha familia!
- Então que passem fome, cambada de miseráveis! E tem mais,não vem mendigar
aqui na minha padaria não. Vai trabalhar vagabundo!

É por unidade ou é por quilo?
É porque não é ou porque não pode?
Tanto faz? Ou não faz?
Cada moleque um caminho
Cada estrada um espinho
Um olhar de preconceito advém do vizinho


- Vamos, caminha mais rápido filha.
- Por que mãe?
- Tem um menino todo sujo ali atrás!
- E daí?
- Daí que é um marginalzinho, é obvio que quer nos roubar.
-Mais ele está parado mãe, e nem olhou para gente!
- Não olhou para disfarçar filha, eu conheço bem essa gente.


O que se esconde atrás do medo?
Manda para fora e joga bola
Ódio fala, moleque chora
Conhece bem o desvalor
Sabem bem o que é rancor
A discriminação disseminou, alastrou, contagiou.


- Eu já vou, esse não é meu mundo!
- Fica ai cara, a festa está massa, só gente da grana!
- Que nada cara, todo mundo me olha, parece até que sou E.T!
-Para de nóia, tão de achando bonito!
- Tão nada, tão é com medo de mim, eu vou, não quero me sentir pior!
- Você que sabe!


Ele sabe e se importa
Vai em frente e fecha porta
No mundo que divide a entrada
Do que não mais suporta.

quarta-feira, novembro 01, 2006

Centro e Periferia


O que se esconde atrás dos edifícios?
Em que garagem estacionam os corpos?
O que tem naquelas vielas?
O que o mudo quer falar?

Eis aqui almoço e jantar
O lado B e o lado A
A contradição ali está
Tentando entender e como mudar

Sabe-se lá a que visar
Educação e analfabetismo andam lá
Viram e reviram
O âmago periférico
Vigiam e protegem
A legalidade do agreste

Quanto se ganha?
Quanto se gasta?
Onde se gasta?
Como se gasta?

Já basta, tudo basta
Nada se arrasta
Vida escassa
Na onda da catraca

Quem se esconde está visível
Os corpos estacionados se movimentam
Nas vielas nada tem
Diz o mudo que os detém.