terça-feira, julho 04, 2006

TORNAR DESIGUAL PARA TORNAR IGUAL

O Brasil começou errado, sendo explorado , escravizando pessoas, segregando, destruindo etnias, atrelando uma dívida externa para tornar-se liberto. Mas terminar errado ou continuar errado não dá. Tantos anos já se passaram desde 1500, tempo aquele tão injusto, tão desumano, os negros por um longo período eram tratados como um bem-semovente, até mesmo para um Código Civil, termo esse (bem semovente) dirigido para animais, eles eram trazidos dá África praticamente a força, sem saber para onde iriam ou que fim teriam, chegando ao Brasil em navios amontoados como bichos, vistos como subumanos, eram trocados por produtos brasileiros, como se fossem objetos de troca, levavam esses seres humanos para o eito, tornavam-se propriedade de alguns, supriam o problema da mão-de-obra , sendo barato ou gratuito. Inúmeros autores falam da questão racial sofrida na época da escravidão, da repressão sofrida pelos negros, forçados e escravizados a um trabalho vil, sem remuneração. No século XVII, haviam 20 mil escravos no Brasil. Após a alforria conquistada pelo escravo, ainda assim tinham que andar pelas ruas como se fossem fugitivos, perseguidos a todo tempo por aqueles que se sentiam no direito de possui-los, alguns fazendeiros promoviam buscas aos fugitivos, quando capturados sofriam torturas no cepo e no tronco, por serem considerados inferiores e não pertencentes a raça humana. Assim, formavam agrupamentos na “selva”, verdadeiras aldeias, os negros se refugiavam em quilombos, formando um lugar só deles. Nosso país na época do descobrimento era tão novo e ao mesmo tempo tão arcaico, segregando pessoas pela raça. Após se libertarem das algemas, algemas essas concedidas a eles pelos brancos, que se achavam “deuses” e únicos, começou-se a falar da tal da “igualdade”, depois da barbárie desigualdade estabelecida ali, pois bem, agora todos são iguais perante a lei, no papel mudou, as normas mudaram, as leis , os artigos , incisos e alíneas, mas o preconceito não, os rastros daquele tempo não, a mente, os pensamentos, os sentimentos das pessoas não, pois então pergunto: “ Que igualdade é essa ali na Carta Magna?”. Já se passaram 500 anos desde o descobrimento e olha-se para o hoje, e vislumbra-se vestígios de 500 anos a trás, se vê desigualdade racial, vinculada quase totalmente a racial, num país do carnaval de origem negra e pobreza negra, uso o termo “pobreza” mesmo, pois nas palestras que assisto parecem-me que alguns palestrantes, têm receio de falar pobreza , então falam outros termos como: classe desfavorecida, de baixa renda, miseráveis, e ai vai, que nada é pobreza sim, e enquanto escondem isso nada vai mudar, como tentam mudar a cidade de Florianópolis, enfeitando-a , mais não conseguem esconder o morro (se poderem esconder o fariam ) dos turistas, mas a pobreza está berrante em nossa cidade, sociedade e país, estão pedindo misericórdia, num país que as vezes não dá para sobreviver. Vivemos em um Brasil com preconceitos, com seqüelas do passado, tentam camuflar esse tal de preconceito, com a ajuda da famosa mídia e elite, dominadoras e formadoras de mentes e opiniões, essa mesma mídia que induz o consumo que infelizmente é para poucos, que trata a sociedade como leiga de informações, pois transmitem programa como Big Brother, enquanto podia ser transmitindo programas educativos e de qualidade de informação, reeducando a sociedade alienada a televisão improdutiva de informação coerente. Imaginem então quando se fala em leis de COTAS, isso para alguns (muitos) é uma gafe, um equívoco, vai contra e fere a constituição, sei lá, tiram argumentos do além para contrariar a política de implemento de cotas nas universidades federais, que é repleto de filhos de famílias de posses, que sempre estudou em colégios privados, fizeram cursos preparatórios para vestibulares, estando bem preparados para disputar uma vaga com aqueles que estudaram boa parte de suas vidas em escolas do governo, com má infra estrutura, com professores que recebem um salário de fome, em greve por longos períodos, nisso ninguém parece pensar, e os privilegiados ingressam nas universidades sustentadas com o nosso dinheiro, aumentando e assegurando o patrimônio, pois ingressam nos melhores cursos e os filhos de faxineira vão ser faxineiros, nem chegam a ingressar em nenhum curso. Se a miséria está como está é porque não se deu oportunidades desde o começo para todos, só se deu para alguns, se visualiza pouquíssimos universitários pobres e negros nas universidades, já viram oligarquias negras? Em shopping centers gastando fortunas em tênis e roupas da moda? Em cargos nobres? . Salientando a questão das cotas, é um ato que tem que existir, precisa de atenção, podem até falar que mexe com a nossa constituição que essa por sua vez prega isonomia, porem tem que haver uma reflexão, na realidade isso não acontece, então temos que tratar com a realidade, e não com a teoria ou utopia. Pois então vamos tratar desigual, para lá na frente tornar igual, para termos um país mais justo e com maior isonomia, não as deixando só num mero papel, para não haver só filhos da classe média ou da alta doutores, mas todos um dia terem a mesma oportunidade para chegar lá. O povo precisa acordar, os intelectuais, os interpretes das leis, todos olharem para realidade berrante, ali, aqui, lá na frente, pois grande parte desses não querem enxergar a realidade, e quando enxergarem pode ser tarde de mais. Irá depender também da ação, da mudança de consciência dos prejudicados que vivem neste país chamado Brasil, que encontra-se em segundo lugar na pior distribuição de renda do mundo, vai depender de nós a mudança desse paradigma, não se deixando manipular mais uma vez, buscando através de políticas publicas, afirmativas, movimentos, força de vontade, esperança, é que se pode alcançar algo desejado, não é simples e nem da noite para o dia, é árduo e cansativo, mais se cada um fizer sua parte viveremos em um mundo melhor, assim estaremos cientes de nossos direitos, direitos esses que se encontram nas mãos da oligarquia elitista, e o que nos sobra é a pena, o direito penal, que no ultimo senso promovido pelo ministério publico em 1994, foi constatado que 95% dos presos eram pobres, 83% não tinham completado o ensino fundamental, para completar no mesmo ano a revista Veja expôs uma matéria em que continham alguns dados, sendo que de 10 criminosos, 3 eram acusados por furtos, furtos esses que na maioria eram de tijolos ou caixa de leite ,ou seja, quem está encarcerado, como fala Mv Bill (em uma de suas composições), “cadeia é pra puta, pobre e preto”, essas são as marcas de um passado que não foi cicatrizado. Há uma grande dívida com o povo, com os índios, pois chegamos e aos poucos estamos destruindo o que eles preservaram , além de aos poucos os destruírem também, aos negros, por toda a maldade concebia a eles, e para os pobres esquecidos nos quatro cantos do país, desde Paraná á Amazônia, de ponta a ponta do país. De um Brasil tão rico e ao mesmo tempo tão pobre.

4 comentários:

Anônimo disse...

Sergio Roberto Lema :

É isso aí Gabriela! A resistência cultural conta com você para construir uma
contra-hegemonia dos povos oprimidos e explorados. Viva a revolta quilombola.
Todo o poder ao povo que trabalha e produz a riqueza material e espiritual. Axê!

Mario Davi Barbosa disse...

É desse jeito msm q nós temos q pensar! Eu já havia comentado pra ti desse texto e q ele vai ao encontro da teoria das ações afirmativas do dto. constitucional e das lutas dos movimentos sociais como um todo e, em especial, do movimento negro. Infelizmente esse pensamento se colide, vai de encontro com a concepção social da classe dominante brasileira, mas as barreiras são feitas pra serem ultrapassadas e é com pensamentos e ações como as suas q algo pode mudar! E viva o movimento!

Anônimo disse...

BAHHHHHHHHHHHHH.......GABYY É ISSO AÍ....TO CONTIGO E NAUM ABRO...

Anônimo disse...

Como futuro operador do direito positivo, tenho essa mesma consciência.
Fico feliz q as pessoas como vc (gaby) pensem dessa forma, ao ivés de ficarem peocupados somente com futebol e big brother.
Meus parabens por essa publicação