quarta-feira, setembro 27, 2006

As grades e Ela


Está na hora do banho de sol, onde ela ficará livre por alguns instantes, daquelas grades de ferro que a corrompe. Trancada há anos já nem sabe em que estação se encontra e o que se passa lá fora. Por trás do cárcere privado já não vê amigos, parentes e nem marido, pois visita íntima foi cancelada.
Acabam-se os instantes de luz, e ela volta para as trevas, à escuridão da caverna da solidão. Lá ela pensa em milhões de coisas, e a coisa que ela mais tem lá é tempo, para pensar, chorar e se martirizar. As mesmas faces sofridas que vê todos os dias a torna mais desanimada para pensar no demorado futuro. O lugar é sujo e assombrado, lhe causando deveras vezes pânico, a vida ali não é de se dar gosto.
Passam-se dias e horas, o sol nasce e se põe, e tudo parece estagnado em momentos desonerados, obrigados e alienados. A comida já não entra mais, a dor de está longe dos filhos já não agüenta mais, dormir no chão já não suporta mais, a solidão a constitui cada vez mais.
Enquanto sua liberdade não chega, o aval da libertação não aconchega, ela continua trancafiada por trás das grades enferrujadas, olhando para o cadeado que tranca sua vida, cochila para esquecer que ali se abriga.

terça-feira, setembro 12, 2006

Aquela Mulher


O rosto sofrido daquela mulher
Mulher sofrida que camufla sua dor
A mesma dor que corrói seus filhos
Os filhos daquela que apanha calada


O corpo sofrido expõe hematoma
A alma dilacerada, rasgada em pedaços
As mãos sofridas, lavam, esfregam e
cobrem o rosto para ocultar o choro


Com sofreguidão aguça o coração
Coração escondido na interna da solidão
O coração que agüenta os lamentos
Daquela mulher.


Lamentos que nunca acabam
Que tudo consola na outrora por ali a fora
Suplicando por piedade leva a vida
na sociedade, na vontade, na eternidade.


Ninguém vê e todos vêem
Aquela mulher que chora baixinho
Aquela que vive no ninho
No ninho sombrio


O suspiro acelerado, deturpado, amedrontado
O sofrimento abafado, lamentado, rasgado
Assustam aquela que se aflige
Que sofre, padece, tolera
Que só ela sabe o que espera, e o que já era.